Eu sempre fui meio atrasado pra fazer as coisas, sempre demoro. Levei 20 anos pra dar um beijo em alguém, demorei pra me decidir sobre rumos, trabalhos, estudos... Sempre fui lento pra me estabelecer.
Eu sou sempre bastante quieto, quase mudo, isso é da minha natureza e me deixa bastante desconfortável em muitos momentos, eu sentia isso durante as filmagens anteriores, sabe essa coisa de “aquele cara não tem muito a ver com nada”, pois é, não que eu tenha começado a falar mais do que de costume e nem que toda equipe de trabalho deva ser unida e harmoniosa (vide seleções da Copa) mas me senti muito contente em realizar esse projeto e essa gravação especificamente me satisfez muito; a seqüência de cenas me ajudou na criação e a medida que fomos filmando fui melhorando e acho que pela primeira vez me senti aquecido em interpretar pra cinema. A segunda cena foi bastante longa e muito íntima para todos, pois passamos longo tempo num pequeno quarto.
Bruno e Débora trabalharam juntos numa produção com mais equipe e tals e eles têm mais facilidade de estarem em contato. Eu não moro em Curitiba, não ando pelos barzinhos, não mostro muito a cara, sou bicho do mato, e ainda me sinto estrangeiro na cidade grande sempre com muita gente ao redor.
Nos encontramos após a tediosa final da Copa 2010, preparamos um roteiro rápido onde a única coisa definida era que seria um casal rocker, tínhamos o figurino e saímos filmar.
Essa equipe que montamos junto com Eugenia e Rosano entrou num pequeno Fiesta e rodamos a cidade inteira e aos poucos fui finalmente entendendo o NOSSO TRABALHO e o que ele importa e significa pra mim; não está necessariamente na marca, na estética, na produção ou qualquer outro mecanismo externo, nosso filme tem Valor porque expõe a Vontade essencial de Realizar uma obra de arte, e a ação de cada pessoa dessa equipe está inteiramente disponível ao filme, nós estamos fazendo algo com aquela paixão de fazer algo próprio e principalmente prazeroso, onde a curtição de Fazer junto é o que conta. Isso combina com o lema Do It Yourself dos punks que brincamos de ser nessa gravação. Esse contato com a obra que você realiza é o canal mais interessante durante o processo de gravação e como nosso filme é feito em doses homeopáticas a cada novo encontro dá pra brincar de lembrar o que foi feito e agrupando a quantidade de energia que a gente já desprendeu pra Fazer, Fazer e Fazer da melhor maneira. Devo estar meio atrasado, mas acho que me sinto em casa agora, me sinto mais parte tanto desse time, quanto desse trabalho. Diversão, solução sim.
Gessé Malmann